quarta-feira, 5 de setembro de 2012

É a minha mamãe!

Fui a São Paulo e trouxe para Dhara um estojo com trocentas canetinhas coloridas, lápis de cor, tinta, régua, borrachas, carimbos... ou seja, um prato cheio para sua criatividade. 
Dhara adora desenhar e se diverte com seu novo presentinho.

Há algum tempo venho observando suas produções. E isso a mamãe-coruja-pedagoga sabe fazer bem. Os rabiscos começaram a ganhar formas arredondadas; os círculos começam a surgir e, a mais ou menos um mês, surge o primeiro esboço da figura humana. Um sonho!
Só que esta figura humana sou eu: Mamãe!
É o seu primeiro desenho da mamãe. Lindo! E será uma das três tatuagens que farei.


Olha que lindo! Tem olhos, nariz, boca, braços... aquela "graminha" ali do lado é o seu nome: Dhara Silva Santana. hahahaha



Da série: Diálogos! (o mais emocionante)

Hoje, enquanto saíamos da Escola Girassol, aguardávamos na fila do estacionamento e Dhara avistou, do carro, um morador de rua dormindo no pedaço de papelão.
Dhara: Mãe, quem é ele?
Eu, enquanto arrumava o som, ele quem, filha?
Dhara: Ele, mãe. Aquele moço.
Eu: Onde, filha? (procurando alguém conhecido)
Dhara: Alí ó, mãe. O homem dormindo no chão!
Eu: Ah. Filha! Ele é um morador de rua.
Dhara: Ele está triste? (o homem estava com a cabeça enterrada nos braços)
Eu: Por que você acha que ele está triste?
Dhara, que levou um tempinho pensando, disse: ele tá sozinho.
Eu: E quando as pessoas ficam sozinhas elas ficam tristes?
Dhara: é.
o carro seguiu... saí do estacionamento... silêncio no carro!
Dhara: Mãe...
Eu: Oi, filha.
Dhara: Por que ele dorme no chão?
Eu fiz toda a explicação econômica e social, respeitando seu entendimento da situação e tudo que era palpável naquele momento. Respirei fundo... Minha filha é observadora, é sensível, é especial. Respirei fundo outra vez... desliguei o som do carro.
Dhara fez um silêncio... (O que vem por aí? - eu pensava)
Olhava pela janela do carro... Talvez na tentativa de buscar outra cena intrigante, descomunal para o seu universo infantil, para a sua fantasia. É... a realidade tomava minha filha a galopes.
Ela rompe o silêncio e diz: Mamãe, ele tá triste?
Eu: Filha, você acha que ele está triste? (devolvi a pergunta na tentativa que ela me desse mais dados sobre o que estava pensando. Não queria concluir. A cena era triste, mas ela deveria tirar sua conclusão sozinha. Então ela diz: Ele (É) triste!
Eu: E o que você acha que a gente pode fazer para ele SER feliz?
ela pensou...
Dhara: a gente leva ele para brincar com os brinquedos e Espirro! (Espirro - o nosso cachorro).

....

Minha filha me surpreende a cada dia. Quem a vê, com seu jeito tímido, seu olhar desconfiado, não pode suspeitar quanta sabedoria brota em suas experiências. Seu olhar para o mundo é espetacular. É curiosa, observadora, decidida. Parece até aquela velha marmota de: minha filha é melhor do mundo. Sim, talvez seja este o sentimento de todas as mães. Mas digo, com toda a certeza, minha filha tem uma luz especial.
Ela é o meu fluxo contínuo de amor. Não foi a toa sua vinda, seu nome, sua história... Nada é por acaso!